O ator sueco-libanês Fares Fares assume a cadeira de diretor pela primeira vez em Um dia e meio (agora transmitido pela Netflix), um drama de reféns que ele co-escreveu e vagamente baseado em uma história real que o cineasta leu há mais de uma década. O público americano pode reconhecer Fares por seus papéis coadjuvantes em um ladino e Zero Escuro Trintabem como séries de TV Mundo Ocidental e A Roda do Tempo. Aqui, ele interpreta o policial que atravessa o país dirigindo com um homem desesperado que mantém sua esposa e filho sob a mira de uma arma. É um thriller simples e eficaz, e uma estreia sólida atrás das câmeras para Fares.
A essência: Artan (Alexej Manvalov) parece nervoso, mas determinado. Ele entra em um consultório médico e exige ver Louise (Alma Poysti), sua ex-esposa. Ela trabalha lá. A recepcionista resiste em acomodá-lo – até que ele saca uma arma. Ele invade o escritório e encontra Louise enquanto enfermeiras, médicos e pacientes se preocupam. Logo, os policiais chegam do lado de fora. Lukas (Fares) avalia a situação. A força-tarefa não pode ficar aqui por três horas – muito tempo. Ele olha para a janela do escritório e vê uma placa: uma pessoa pode subir, nua. Ele solta um suspiro cansado e tentamos ler seu rosto: ele se sente confortável sendo um negociador de reféns? Ele já fez isso antes? Alguém mais vai cuidar disso? Não. Ninguém mais vai cuidar disso.
Há uma batida na porta do escritório. É Lukas, de cueca, segurando calça e camisa. Artan o deixa entrar e se veste. Lukas pede para ver o que tem na mochila de Artan; Artan insiste com raiva que não está carregando uma bomba e reclama sobre como as pessoas sempre presumem que ele é um terrorista porque é um imigrante. Ele entrega a mochila a Lukas. Lukas olha e devolve e continua ouvindo as exigências de Artan. Ele quer um carro sem identificação e com vidros escuros em 15 minutos. Eles vão até a casa dos pais de Louise para que Artan possa ver a filha. Policiais batem na porta e Lukas atende. Ele conta a eles as exigências de Artan enquanto um policial segura um caderno. “Condenado por agressão”, diz. “Batalha pela custódia.” É isso. Em poucas palavras.
Claro, é muito mais complicado do que essas cinco palavras. Artan pega seu carro. Um lençol cobre a janela traseira, o melhor que a polícia poderia fazer em tão pouco tempo. Lukas fica ao volante enquanto Artan força Louise a sentar no banco de trás sob a mira de uma arma. A história do casal é incoerente – o que não é uma surpresa, já que está sendo contada aos poucos por pessoas intensamente estressadas. Artan e Louise discutem. Algo sobre a negligência dos pais e Artan passar três meses na prisão, o que ele não acredita que merecesse. Lucas escuta. Tenta mantê-los calmos. Fala de forma razoável e clara. Um punhado de carros de polícia e motocicletas os escoltam pela estrada. Ocasionalmente, Lukas se comunica com outro oficial. Lukas e nós tentamos juntar as peças da história; quando chegarem à casa dos pais dela, tudo ficará mais claro, mas também muito mais complexo. E logo nos perguntamos: Lukas está perdido? Ele e Artan têm travado uma competição sutil pelo controle. Lukas está treinado para esta situação? Não tenho certeza. Difícil dizer. Mas ele está fazendo o melhor que pode.
De quais filmes você lembrará?: Meu drama favorito sobre negociação de reféns: o subestimado de Spike Lee Homem Interior. Denzel!
Desempenho que vale a pena assistir: Manvalov e Fare são igualmente fortes aqui, encontrando com atenção os pontos fracos do roteiro e enriquecendo-o com suas atuações.
Diálogo memorável: Uma troca fascinante ocorre depois que Artan fica irritado com o comportamento franco de Lukas.
Artan: Já esteve em muitas dessas situações?
Lukas: Não. Mas eu sei aonde os mal-entendidos podem levar.
Sexo e Pele: Nenhum.
Nossa opinião: Na superfície, Um dia e meio é um exercício de tensão prolongada – é um drama de 95 minutos que consiste em um único cenário simplificado. É cheio de suspense e preocupante: do que Artan é capaz? Ele ameaça matar Louise e depois a si mesmo, mas acreditamos nisso? À medida que o conhecemos mais do que apenas um antagonista, não temos certeza se ele tem isso dentro dele. No entanto, algumas pessoas não são definidas por uma vida inteira de racionalidade, mas sim por um breve momento em que perderam o controle. É aí que a semente do medo encontra o seu terreno – na incerteza.
O roteiro de Fares e Peter Smirnakos se alimenta dessa configuração de suspense, que, junto com uma direção naturalista e robusta, nos mantém emocionalmente engajados e absorvidos no drama. Mas este não é apenas um filme do tipo o que vai acontecer/espero que não seja uma tragédia. Levedado ao subtexto está uma exploração das sutilezas da comunicação humana. A negociação de reféns é tanto uma arte quanto uma ciência; presumimos que Lukas esteja pelo menos um pouco familiarizado com os métodos adequados, e a improvisação e a intuição provavelmente fazem parte disso. Ele claramente não é um especialista, mas a maioria de nós não tem o quadro de referência para determinar se ele está lidando com a situação com o tom apropriado. Só podemos nos apoiar na lógica e no bom senso, que em um drama de reféns como este tende a ser um terreno instável. Deve haver momentos em que a psicologia reversa ou medidas contra-intuitivas são necessárias, certo?
Observe como Lukas enfatiza a clareza e a repetição ao se comunicar com Artan e seus colegas policiais. Inevitavelmente, ele conta um pouco sobre si mesmo – os personagens ficam presos em um carro durante a maior parte do filme – e diz que seu casamento acabou porque eles “pararam de ouvir” um ao outro. Mais tarde, ele volta atrás e revela que a infidelidade foi um fator, mas essa não é a causa raiz dos relacionamentos rompidos – é um sintoma de um mal-estar mais profundo. E aqui começamos a traçar paralelos entre Lukas e Artan que existem nas áreas cinzentas entre protagonista e antagonista. Não há bem e mal nesta história, mas sim personagens críveis com corações partidos.
A lógica nem sempre governa nesta história, entretanto. Quando a trama nos leva aos pais de Louise na metade do caminho, os personagens reagem de uma maneira que desafia a razão, principalmente em uma situação em que a pessoa com a arma deve ditar como todos reagem. A cena melodramática e exagerada funciona para complicar artificialmente o drama, despertando ideias sobre preconceito e paternidade que enriquecem a história com relevância, mas mancham o filme com uma série de notas dramáticas desafinadas. Mas caso contrário, Um dia e meio é um drama tenso e envolvente que se aprofunda o suficiente na especificidade de seus personagens e situação para revelar algumas afirmações universais sobre a condição humana.
Nosso chamado: Com Um dia e meio, Fares prova ser tão forte atrás das câmeras quanto na frente delas. TRANSMITIR.
John Serba é escritor freelance e crítico de cinema que mora em Grand Rapids, Michigan.